O balanço preliminar das eleições legislativas no estado do Rio de Janeiro indica uma perda de espaço do DEM, antigo PFL. Algumas evidências deste fenômeno político:
1) O ex-prefeito Cesar Maia chegou em quarto lugar na disputa para o Senado Federal, com aproximadamente 11% dos votos válidos, um pouco à frente de Waguinho, do PT do B, que alcançou quase 9% dos votos válidos, e bem longe do ex-deputado estadual Jorge Picciani que atingiu quase 21% dos votos válidos;
2) Cinco deputados federais formavam a bancada do DEM na atual legislatura. Ela foi reduzida para dois parlamentares nas eleições do último domingo, os deputados Arolde de Oliveira e Rodrigo Maia;
3) Na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro(ALERJ), por sua vez, o DEM conta atualmente com três deputados estaduais. A partir de 2011 terá apenas um representante, a deputada Graça Pereira, que inicia agora seu quarto mandato parlamentar.
Alguém poderia dizer que o DEM conseguiu indicar o deputado federal Índio da Costa para o cargo de vice-presidente da República, na chapa de José Serra. De fato ocupou um espaço relevante, mas que ainda depende do resultado da eleição presidencial. Entretanto, mesmo na hipótese mais favorável, vitória de José Serra, o DEM perdeu densidade eleitoral na cidade e no estado do rio de Janeiro.
O PSDB no estado do Rio de Janeiro também não tem muito para comemorar. Na Câmara dos Deputados, o partido caiu de quatro para dois parlamentares, sendo agora representado pelos deputados Otávio Leite e Andreia Zito. Na ALERJ perde uma das cinco vagas que atualmente reunia.
O prefeito Zito, liderança do PSDB do município de Duque de Caxias, mostrou sua força conseguindo eleger uma deputada federal(Andreia Zito) e uma deputada estadual (Claise Maria Zito). Entretanto, fracassou na eleição presidencial, pois seu candidato, o ex-governador Serra, ficou com apenas 16% dos votos válidos, atrás de Marina (28%) e de Dilma(54%).
O PSDB, portanto, não saiu mais forte da eleição no estado do Rio. Continua sobrevivendo através do desempenho eleitoral expressivo de Zito, em Duque de Caxias, e Otávio Leite, na cidade do Rio. A opção de não lançar candidatos nas eleições majoritárias (governador e senador), apoiando Gabeira (PV) e os candidatos ao senado do PPS e DEM, talvez tenha que ser reavaliada.
Sobre o PPS, talvez se possa dizer que ficou onde estava. Diminuiu sua bancada federal, ficando com apenas um parlamentar (Stepan Nercessian), quando antes ocupava duas cadeiras na Câmara dos Deputados. Na eleição para a ALERJ conseguiu mais emplacar mais um representante, ficando com três deputados estaduais na legislatura que se inicia em 2011.
O PPS, nesta eleição, não contou com a presença da ex-juíza Denise Frossard, candidata pelo partido em 2006 ao governo estadual, tendo inclusive chegado ao segundo turno naquela oportunidade.
As fragilidades reveladas pelo DEM, PSDB e PPS nas eleições no estado do Rio de Janeiro, que procurei rapidamente apontar, indicam que o PV encontra hoje terreno fértil para prosperar, especialmente entre os cariocas.
Na eleição para o governo estadual, Fernando Gabeira alcançou a marca de aproximadamente 21% dos votos válidos. Não é o momento de aprofundar as razões da derrota eleitoral, por sinal incontestável. Entretanto, talvez se possa dizer que a candidatura de Gabeira seria mais competitiva na eleição para o Senado, tendo optado pela disputa governamental para ajudar Marina no pleito presidencial.
Além disso, embora tenha perdido, Gabeira ajudou no avanço das ideias relacionadas ao desenvolvimento sustentável, aproveitando bem esta segunda eleição majoritária disputada no intervalo de dois anos.
Marina Silva foi a grande estrela do Partido Verde na eleição do estado do Rio de Janeiro em 2010, obtendo quase 31,5% dos votos válidos, atrás de Dilma Rousseff, com aproximadamente 44% dos votos válidos, e na frente de José Serra, que ficou com 22,5% dos votos válidos.
Na capital do estado os percentuais registrados são praticamente os mesmos, Dilma (43%), Marina (32%) e Serra (22%). Mas é bom notar que Marina venceu em diferentes áreas da cidade, como em Bento Ribeiro/Marechal Hermes na Zona Oeste (39% votos válidos), em Botafogo/Humaitá na Zona Sul (35%), e Andaraí/Tijuca na Grande Tijuca (36%).
A votação de Marina, entretanto, trouxe uma contribuição limitada nas eleições para Câmara dos Deputados e para ALERJ. A bancada federal do PV passou de um para dois parlamentares, Dr. Aluizio e Alfredo Sirkis. Por outro lado, o partido que atualmente não possui nenhum deputado estadual passa a ter dois representantes na ALERJ, Aspasia Camargo e Xandrinho.
O eleitor de Marina Silva para presidente geralmente votou em candidatos de outros partidos nas eleições proporcionais, seguindo uma tendência mais geral e antiga, que também afeta o PT e o PSDB.
De qualquer forma, Marina possui, ao final desta eleição, uma base importante na capital do estado do Rio de Janeiro. O destino dela nos próximos anos depende do desfecho da eleição presidencial. Portanto, neste momento, não cabe muita especulação. Mas talvez se possa dizer que o estado do Rio de Janeiro reúne condições políticas favoráveis para a consolidação do Partido Verde. No âmbito estadual o partido poderá disputar o lugar de segunda ou terceira força política nos próximos anos, podendo tornar-se, por assim dizer, uma vitrine para sua consolidação de seu projeto político na região Sudeste e no Brasil.
Ricardo Ismael/Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-Rio